Dona Cadu

Nascida em 14 de abril de 1920, no Recôncavo da Bahia e atualmente moradora do distrito de Coqueiros, no município de Maragogipe-BA, Ricardina Pereira da Silva – popularmente conhecida como Dona Cadu – é a mais antiga ceramista em atividade. Ela dá vida a panelas, pratos e outros utensílios feitos com barro de modo artesanal, diariamente.

Uma mulher afro-indígena determinada, Dona Cadu é também rezadeira, sambadeira e dona do Samba de Roda Filhos de Dona Cadu, que tem como vocalista seu filho Balbino. É reconhecida por sua singularidade, simplicidade e criatividade.

Foto: Rosangela Cordaro

O deslizar das mãos sobre o barro úmido faz parte da rotina de Ricardina da Silva, a Dona Cadu, desde quando ela tinha 10 anos de idade. Hoje, com 102, ela parece nem sentir o avanço do tempo. Disposta e sempre com muita simpatia, dá vida, diariamente, a panelas, frigideiras e potes, como num balé feito com os dedos. O distrito de Coqueiros, em Maragojipe, guarda em sua história a tradição da cerâmica passada há décadas de geração em geração. Dona Cadu, para a maioria dos moradores, é o símbolo maior dessa cultura.

“Era menina ainda quando vi uma vizinha de meu pai fazendo cerâmica. Eu olhava e achava bonito. Ela me perguntou se eu queria aprender e eu aceitei na hora. Assim, do barro, há anos, tenho tirado o sustento da minha família e consegui educar meus filhos”, revelou a ceramista.

Foto: Candido Vinicius | Elite Studio

RECONHECIMENTO

Com seu carisma e sorriso sereno, Dona Cadu teve, ao longo da vida, importantes conquistas. “Certa vez, representei a Bahia com meu material numa exposição em Curitiba. Fui pela cerâmica e pelo samba de roda. Senti muito orgulho do que eu faço e fiquei feliz por ver que gostaram do meu trabalho”, contou Ricardina. Em setembro de 2021, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Dona Cadu leva o que sabe adiante e dá aulas de cerâmica para os moradores da comunidade. Os alunos dela são só elogios para a professora. Rodrigo Santana é um deles. “Ela tem um conhecimento muito grande, é dedicada e tem orgulho do que faz. Aprendi muito com ela. A cultura é a nossa maior riqueza e me sinto orgulhoso, porque estou preparado para multiplicar o que me foi ensinado”, disse o jovem.

O professor Carlos Alberto Etchevarne, da UFBA, destaca ainda a sua relação com a comunidade de Coqueiros, trabalhando com o grupo de louceiras. “Com relação ao papel que Dona Cadu tem sobre o grupo de artesãs deve se considerar que sua liderança consiste em arbitrar certas questões entre as louceiras, no que concerne às atividades em conjunto, na mediação entre compradores e produtoras e na interlocução destas com o restante dos moradores da Vila de Coqueiros. Alguns depoimentos mostram também o papel de administração socializante quando recebe os pedidos de compradores e divide o que deve ser produzido com outras mulheres, especialmente com aquelas que estão mais necessitadas”.

Finalmente, Dona Cadu formou ainda, com os membros da comunidade, um grupo de samba de roda e participa, compondo sambas, cantando e sambando, de festas da região.

Liderança serena e com afeto:
arbitrando questões entre as louceiras,
privilegiando as mais necessitadas.

Foto: Nilton Souza | Alô Alô Bahia

VEJA
TAMBÉM

Ateliê Mão de Mãe