Janete Costa

Janete foi vanguardista a antecipar as noções fundamentais de
Economia Criativa. Políticas públicas de incentivos a microempreendedores e iniciativas como o SEBRAE foram experimentadas individualmente pela arquiteta décadas antes de serem adotadas em larga escala no Brasil.

Numa trajetória marcada por contribuições significativas no design de interiores, de produtos, arquitetura, curadoria de exposições e empreendorismo social, Janete Costa (falecida em 2008) foi visionária na questão de que o design e a arquitetura precisam expressar as identidades culturais locais.

Nascer no interior de Pernambuco foi decisivo na sua atuação, pois daí decorreu uma ação determinante em valorizar a criação popular do Brasil e a procura por induzir a inclusão social através de seus projetos.

Janete buscou colaborar para a formação de um público consumidor disposto a compreender a engrenagem sociocultural de uma obra artesanal e assim passou a se dedicar em apresentar a criação popular em outro contexto e patamar. Dialogou com criadores locais, procurando valorizar os conhecimentos transmitidos através de gerações, que revelam grande sabedoria na lida com as potencialidades e também limitações das suas condições.

Se hoje a criação popular brasileira vem merecendo mais respeito e visibilidade e se o nosso design vem expressando mais as raízes culturais do país, sem dúvida uma parte decisiva se deve à atuação de Janete Costa.

Defensora do uso da arte popular e do artesanato, apresentava o convívio harmônico entre objetos artesanais e peças de design internacional, em curadorias e exposições ao público nacional e internacional, a fim de serem conhecidos, admirados e principalmente consumidos, garantindo a sobrevivência digna de milhares de artistas e artesões. Nos mesmos ambientes mostravam-se também objetos concebidos por arquitetos famosos e assim, utilizando seus componentes artesanais, Janete demonstrava que a mudança de contexto é vital para este reconhecimento.

Passou a organizar mega Feiras de artesanato, selecionava objetos entre os mais vendidos e os apresentava com a sua leitura em ambientações que permitissem ao público o seu reconhecimento. Só ali os visitantes se dão conta de coisas que haviam passado despercebidas nas visitas aos estandes, frequentemente entulhado de produtos.

INTERFERIR SEM FERIR

“A interferência se faz necessária quando a produção artesanal se descarteriza e se banaliza, entrando muitas vezes em num processo de decadência estética e criativa. É feita a partir de ações de designers ou de arquitetos junto a artesãos, que, num processo interativo, interferem nas peças produzidas, adequando-as a padrões estéticos e funcionais contemporâneos, possíveis de serem consumidas em projetos de arquitetura e de interiores e decoração.

Sem dúvida esse conceito de “adequação a padrões estéticos e funcionais” é subjetivo e poderia dar vazão a absurdos de desrespeito à cultura popular. Não era o caso dela. Nunca impunha um desenho aos artesãos, mas somava seu conhecimento ao deles. Cunhou então a expressão “interferir sem ferir”, a ideia de que esses processos devem ser pautados pelo respeito ao conhecimento de quem produz a peça.

Frequentemente ela apenas deslocava o uso dos objetos na contemporaneidade. Uma cesta poderia, ser adaptada para um porta-guardanapos, uma coberta poderia se desdobrar em jogos americanos, sempre com cuidado para a padronização das medidas.

Foram muitos os diálogos que ela empreendeu, sem creditar a si própria nenhuma autoria. “É importante ressaltar que estas interferências logram êxito quando são absorvidas e apropriadas pelos artesãos que passam a aceitá-las como parte da sua criação, muitas vezes agregando-as em seu processo de produção”.

Em suas iniciativas, era praxe divulgar nomes e endereços dos artesãos, para que pudessem ser procurados diretamente. Sendo assim, na arte popular autoral, revelava gênios, como uma caçadora de obras-primas. Janete contribuía para a descoberta de grandes nomes de arte nordestina sem roubar a atenção para si mesma.

Quando assumia um grande projeto, como a arquitetura de interiores de um hotel, Janete convidava artesãos para fabricar as centenas de objetos e móveis dos quartos e dependências. Assim movimentava a economia, gerava renda, emprego e consumo. Na relação com os artesãos, prestava uma combinação entre consultoria e fomento, pioneira nas práticas que posteriormente passaram a se chamar de “curadoria”.

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